domingo, 13 de novembro de 2016

´Blogs`: do território de influência à lógica de mercado

Os blogs e, sobretudo, o reconhecimento dos bloggers como opinion makers influentes constituem um fenómeno de crescente relevância, à boleia da evolução digital e, consequentemente, da exponenciação das redes de informação/comunicação. Estas plataformas de visibilidade mediática, que começaram por ser um hobby, no modelo de diários pessoais, rapidamente se transformaram numa nova experiência geradora de empregabilidade e negócio.
De facto, os blogs tornaram-se um palco promocional apetecível para as marcas; primeiro, pela multiplicação do público-alvo, pois atraem verdadeiras legiões de seguidores que consultam páginas várias vezes ao dia (só em 2015, 1,8 milhões de pessoas visitaram com frequência blogs em Portugal, tendo metade menos de 35 anos); depois, porque esta abordagem ao público-alvo se baseia numa dinâmica de identificação dos consumidores com os bloggers, que torna mais eficaz o efeito persuasivo da publicidade.
Podemos distinguir, assim, dois tipos de relação de marketing: a promoção na forma de anúncios publicitários nas laterais da página (em banners, flash, etc.), que presume uma maior independência do autor da página relativamente à intenção comercial, mas que tem menos impacto no visualizador/consumidor; a divulgação personalizada e assumida enquanto experiência satisfatória de determinados produtos, funcionando os bloggers como guias do consumidor ao visibilizarem marcas com as quais os seus seguidores se possam identificar. E é, sem dúvida, a segunda a estratégia publicitária privilegiada das empresas e a principal fonte de rendimento dos bloggers.
A nível mundial, a embaixadora de marcas Chiara Ferragni, jovem de 28 anos considerada das pessoas mais influentes pela “Forbes” e caso de estudo em Harvard, é um exemplo paradigmático da escala a que pode chegar este emergente espaço de oportunidades: tem 12 milhões de visualizações por mês, a que se soma a popularidade no Facebook e Instagram, potenciando ainda mais o poder mediático do blog e, logo, o seu valor de mercado. No espaço da blogosfera portuguesa, destaca-se o blog “A Pipoca Mais doce”, da autoria de Ana Garcia Martins, jornalista que deixou a sua atividade para se dedicar por completo a este projeto: a sua página tem cerca de 50000 leitores diários (perto de dois milhões de visitas por mês).
O fenómeno tem, portanto, expressão global e interesse económico inquestionável, embora exista ainda algum preconceito em assumir o blog como negócio, optando a maioria dos seus autores por não divulgar os valores obtidos com o mesmo. Porém, a verdade é que se começa a afirmar cada vez mais a intenção comercial como alternativa de empregabilidade (os casos de maior sucesso abandonaram outras carreiras para serem apenas bloggers) e o desenvolvimento de uma rede de negócios subsidiários.
O “pudor” da associação a um modelo de negócio, motivado pelo receio de se ver “beliscada” a relação de confiança com os seguidores, vai-se esfumando em favor de uma perspetiva mais profissionalizante, em que os bloggers estabelecem parcerias sólidas com empresas e o crescimento do blog sustenta a criação de uma marca própria, como é o caso de Ana Garcia Martins, que já lançou uma linha de produtos para senhora; assim como é frequente a transposição para a abertura de lojas, a publicação de livros ou a realização de workshops (como extensões dos conteúdos online).
E, a partir daqui, desencadeia-se uma proliferação de negócios à volta dos blogs que consolida e expande a feição empresarial, nomeadamente no que respeita à prestação de um conjunto de serviços de apoio à criação e gestão dos blogs. É o caso da Luvin, agência digital criada por Inês Mendes da Silva e Tiago Froufe, com um portefólio que inclui, entre muitos outros, o Daily Cristina (Cristina Ferreira).
Enfim, a influência no universo digital comercializa-se, gera negócios, prospera e faz prosperar. Os blogs perderam a inocência e conquistam espaço no mercado.

Inês Magalhães Castro Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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