segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A poupança como condição obrigatória

A escolha entre poupar e consumir é uma das mais importantes para o bem-estar das Famílias durante toda a sua vida. Os desequilíbrios económicos podem ocorrer devido às flutuações destas variáveis - consumo e poupança – e, por isso, estas detém desde sempre um papel crucial nas teorias do crescimento económico.
A taxa de poupança foi, nas décadas mais recentes, uma fonte de preocupação para quem observou a sua evolução e nela viu motivos para temer o futuro. Depois de vários anos com uma taxa de poupança saudável (estava nos 20% em 1982), entre 2003 e 2007 a poupança dos portugueses caiu para 7% do seu rendimento disponível bruto, o valor mais baixo entre todos os países da Zona Euro. Porém, esta tendência não se verificava apenas em Portugal, assumia também um papel central a nível mundial.
A poupança adotou de facto uma tendência decrescente. Aponta-se a adesão à Comunidade Económica Europeia como a causa primordial. Após a integração de Portugal na CEE, a economia portuguesa vivenciou um período de prosperidade marcado por um forte crescimento económico e pelo desenvolvimento do “Estado Social”. Constatou-se que, neste período, o nível de vida em Portugal convergiu velozmente para o nível de vida médio europeu. A este panorama juntou-se a enorme redução das taxas de juro, da taxa de inflação e o levantamento de restrições no acesso ao crédito, o que levou as famílias e as empresas a contrair empréstimos, a endividar-se, possivelmente, com o pensamento de que Portugal iria continuar num caminho de crescimento e desenvolvimento. A este respeito, o Professor Fernando Alexandre destacou que “As famílias deixaram de ter que fazer uma poupança porque os mercados desenvolveram-se e as taxas de juro baixaram muito a partir de meados dos anos 90, o que tornou praticamente universal o acesso ao crédito”
Dada esta conjuntura, o consumo dos particulares em Portugal aumentou de forma acentuada, enquanto a taxa de poupança baixou de 24% do rendimento disponível em 1985 para 10% em 1990. É de salientar que no período de 2005-2008 baixou para 7% em resultado do aumento da taxa de juro, à qual as famílias terão reagido com uma redução da poupança, em vez de uma redução no consumo.  
Esta diminuição da taxa de poupança contribuiu para o agravamento dos desequilíbrios económicos, tendo como reflexo o aumento exponencial do défice. Dada a crise financeira vivida em Portugal e os sucessivos pacotes de austeridade, este comportamento inverteu-se e os portugueses estão agora a poupar mais, mesmo tendo visto o seu rendimento disponível diminuir. Depois de uma descida significativa até 2008, a taxa de poupança das famílias portuguesas iniciou uma recuperação, justificada naturalmente pelo receio quanto ao futuro, sobretudo tendo em conta a evolução recente das pensões de reforma. É de salientar que o aumento da poupança esteve alicerçado em grande medida na redução do consumo sobretudo de bens duradouros, onde se destaca os automóveis.
Segundo os dados do INE, a taxa de poupança passou de 9,8%, no segundo trimestre de 2011, para 13,6% no segundo trimestre deste ano. A respeito deste aumento, Pedro Passos Coelho afirmou “A poupança cresceu ao longo deste ano a uma dimensão que não esperávamos. Muita gente, por receio ou por precaução, tinha dinheiro para gastar e não gastou”. Isto “tem um efeito positivo”, prosseguiu, porque “saiu menos dinheiro do país mas as receitas fiscais baixaram”. De forma indireta, assumia o fracasso na avaliação do impacto das medidas de austeridade sobre o consumo privado e o crescimento da economia. Para o primeiro-ministro, parecia que a desejada retração tinha ido longe demais.
Mas, numa altura de tentativa de recuperação económica, pode isto ser um mau sinal? Afinal, por que devemos poupar? Para além de criar uma almofada financeira, ajudando a precaver situações inesperadas, a teoria do crescimento económico aponta a poupança como uma espécie de semente do investimento. Explicado de forma muito simples, os bancos recebem poupanças, normalmente sob a forma de depósitos, e distribuem-nas via concessão de crédito a empresas e famílias. Teoricamente, essa poupança dinamiza o investimento e o consumo, faz mexer a economia e acaba por gerar mais emprego e rendimento.
No meu entender, não devemos afirmar que os portugueses estão a poupar demais. Os valores da taxa de poupança nem são os maiores na União Europeia. A Alemanha e a França apresentam uma taxa de poupança de 16.4% e 15.2%, respetivamente. Numa prespetiva de curto prazo, é óbvio que prejudica a atividade económica pois a procura, indubitavelmente, caí mas, a longo prazo, penso ser uma boa solução pois não nos podemos esquecer que a poupança atual é investimento futuro, o que significa que a poupança é uma condição necessária para a existência de crescimento económico. Poupar significa gerir recursos e preparar o futuro. O famoso pé-de-meia deveria ser condição obrigatória, sobretudo no Estado.

Inês Cunha Rocha Pereira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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