quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Para 2013, qual será o caminho?

Acabou 2012, chegou 2013. Ainda há aproximadamente 18 meses, o primeiro-ministro vinha em público, com o seu discurso demagógico, dizer que 2012 seria o dobrar do cabo das tormentas. Contudo, as previsões falharam completamente e apresenta-nos, em Outubro passado, o Orçamento de Estado mais austero da longa história de Portugal, que já tem aproximadamente 900 anos. Entretanto, o documento foi já promulgado pelo Presidente da República na véspera do ano novo.
As promessas de reformas estruturais, cortar gorduras, vencer a crise e chegar ao crescimento económico parecem agora estar um pouco mais longe. O caminho para tal será ainda mais escuro do que nos fizeram acreditar inicialmente.
Com o chumbo do Tribunal Constitucional ao corte dos subsídios dos pensionistas e função pública, o Governo arranjou a justificação que lhe faltava para aumentar a carga fiscal direta aos trabalhadores do setor privado. Deste modo, o Governo alega que a repartição equitativa do esforço entre o sector público e sector privado será alcançada por via dos impostos diretos, com particular incidência no IRS. Assim, o Orçamento de Estado contempla medidas de austeridade como o aumento do IRS através da redução dos escalões (de oito para cinco) e a sobretaxa de IRS (inicialmente de 4%, agora 3,5%).
Obviamente, dada a elevada carga fiscal de que os portugueses têm sido alvo desde o início do programa de ajustamento, o Orçamento de Estado não pode ser inteiramente constituído por aumentos da receita fiscal. Igualmente será necessário cortar na despesa. O Governo inseriu para 2013 cortes na função pública (aproximadamente 80000, na sua maioria professores), cortes nos subsídios de desemprego, e cortes nos pensionistas (além da eliminação dos subsídios para pensões acima dos 1500€). Outras medidas de corte da despesa que o Governo tem em mente para este ano são o corte de 1000 milhões nas PPP’s e um corte no apoio às fundações (perto de metade do valor).
Se as duas últimas medidas de redução da despesa são úteis e vão de encontro ao prometido no início da legislatura, as três primeiras constituem um ataque ao Estado Social e aos progressos alcançados no mesmo, bem como uma redução do nível da qualidade do ensino. Também o aumento da carga fiscal via IRS é um caminho que poderá não ser, de todo, o melhor para a situação atual do país.
Mesmo dado todo o rigor a que o Governo tem de se submeter para alcançar as metas negociadas, que entretanto já foram revistas, o aumento da carga fiscal para este ano é abusivo e um sacrifício enorme para os portugueses.
Se olharmos para as receitas fiscais, vemos que nos primeiros sete meses de 2012 ano estão 4,9% abaixo do verificado em 2011. Este indicador sugere que a carga fiscal exigida aos portugueses é tal que a receita já é decrescente. Se tomarmos por referência a curva de Laffer (da autoria de Arthur Laffer), podemos alegar que Portugal está já na banda de Tributação Proibitiva, isto é, está além do nível ótimo de taxas de imposto/receita fiscal.
Prevê-se, portanto, para 2013 um ano de mais austeridade para os portugueses, que entretanto ficaram já familiarizados com a palavra. O caminho, porventura, não será o ideal para Portugal, dada a carga excessiva a que a população portuguesa está já exposta.
O cenário de reestruturação da dívida deverá ser um meio alternativo dada a situação atual do país. Portugal deve, evidentemente, fazer um esforço para cumprir os seus compromissos e, para tal, alguma austeridade será necessária. Contudo, esta isoladamente não será o meio de resposta para atingir tal fim, ao contrário do que o Governo quer fazer querer. Se o caminho da austeridade continuar a ser seguido, este traduzir-se-á num agravamento da recessão e dos problemas sociais.
Parte da solução deverá passar por medidas de promoção do investimento e de incentivo à criação de emprego, como certos benefícios fiscais, linhas de crédito específicas para as PME, dinamizar projetos empreendedores e inovadores. Será crucial também, aumentar a eficiência da despesa do Estado, através da renegociação de PPP’s onde as rendibilidades estejam desajustadas dos riscos assumidos, entre outras.

Rogério Carvalho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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