sábado, 17 de novembro de 2012

O futuro do ensino superior

             A popularização do sistema de ensino, iniciada acerca de 3 décadas, com aumento das escolas do ensino secundário e das universidades, oferece o acesso ao ensino a todos os que queiram e possam estudar. Esta medida foi considerada uma das medidas-chave no caminho da nossa sociedade para a modernidade e progresso. Entretanto, ao fim de 30 anos, todos nós reconhecemos que o sistema de ensino se encontra num estado deplorável.
                Com a recente publicação do Orçamento de Estado (OE) para 2013, facilmente percebemos que este cenário pode e vai tornar-se ainda mais negro se as medidas impostas no novo orçamento prevalecerem. Foi anunciado, pelo governo, um novo corte orçamental na educação. Esta reforma visa o corte de quatro mil milhões de euros na despesa pública, dos quais 3,5 mil milhões serão nas áreas da Educação, Saúde e Segurança Social.
                Nos últimos dois anos, o orçamento da educação desceu de 5,7% para 3,9% do PIB, colocando Portugal num dos últimos lugares ao nível europeu. Vários reitores já se fizeram ouvir e alertaram para o facto de as instituições não poderem mesmo funcionar com os cortes previstos no OE. Segundo o presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António Rendas, “a situação das universidades é muito grave”, já que a redução das dotações em 9,4% vai limitar “a capacidade de intervenção”. Também ele, alerta para o risco de os estabelecimentos de ensino poderem “chegar a meio do ano sem dinheiro para pagar salários ”.
                Este financiamento público já havia sido reduzido anteriormente em 144 milhões de euros, entre 2005 e 2012. Com a nova redução, este valor pode atingir os 200 milhões de euros caso o OE não seja alterado. Os cortes irão trazer efeitos imponderáveis e irreversíveis para todo o sistema universitário, podendo mesmo inviabilizar o desenvolvimento de atividades essenciais para o funcionamento dos estabelecimentos, bem como, por exemplo, compromissos assumidos com parceiros internacionais ou parecerias com países lusófonos.
                Também os representantes dos institutos politécnicos garantem não haver condições para funcionar durante todo o ano de 2013 se o governo não recuar nos cortes. Funcionar com menos 9,8% de orçamento, que significa menos 25,7 milhões de euros em relação a 2012, não é possível, garantiu o vice-presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Rui Teixeira.
                Em resposta a estas críticas, Nuno Crato, ministro da Educação e Ciência, afirmou que os politécnicos precisam “coordenar a oferta”. “Um dos caminhos que temos indicado é coordenarem-se com o ensino profissional secundário. Têm instalações, professores e especialistas que as escolas secundárias não têm e podem oferecer uma experiencia avançada mais cedo que o habitual”.
Quanto a racionalização da rede do ensino superior, Nuno Crato destacou o “exemplo” da Universidade de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa, que têm em curso um projeto de fusão que é mais que uma “junção” das duas instituições. Isto deve significar uma “real coordenação” entre as instituições e “coordenação de oferta de cursos”, limitando assim essa oferta.
                Se entre 1995 e 2009 o país aumentou a percentagem do PIB investida na educação de 4,9% para 5,9%, ainda assim ligeiramente abaixo da média da OCDE, cujo crescimento foi de 5,4% para 6,2%, os últimos anos inverteram radicalmente esta tendência devido a crise que se enfrenta atualmente. Enquanto que no conjunto dos países da OCDE o investimento continuará a rondar os 6,2%, em Portugal este valor desceu já para níveis inferiores a 1995, ou seja, 4,7% em 2011 e 3,8% em 2012. Logo, atualmente estamos a investir quase metade em educação do que a média dos países da OCDE. Este facto terá consequências muito negativas no futuro do país.
                Quanto ao esforço financeiro do estado por cada estudante, o atraso português é ainda mais notório: em 2009, investíamos menos 15% por aluno do que a média dos países da OCDE. Este atraso terá crescido nos últimos 3 anos devido aos cortes orçamentais.
                Somos dos países com as propinas mais elevadas da Europa, com menos população licenciada, 25% contra 38% da média da OCDE na faixa etária dos 25 aos 34 anos. Este é o país que na última década quadruplicou o esforço financeiro de estudantes e famílias no orçamento global do ensino superior, de 7,5% para 29,1%.
                Nas últimas décadas, Portugal tem feito um enorme esforço de qualificação escolar da população, que se traduziu em progressos substanciais em matéria de educação. Contudo, o país continua a apresentar um défice estrutural de formação e qualificação da população que exige uma aposta clara e persistente na resolução dos problemas que têm impedido a convergência com os atuais padrões da União Europeia, nomeadamente os níveis de insucesso e abandono escolares e o défice de qualificações da população ativa. É dramático que um dos países mais atrasados ao nível das qualificações escolares venha a sofrer, ainda mais, um desinvestimento nesse sector.
Os benefícios públicos do investimento na educação são, a longo prazo, muito grandes, nomeadamente para a redução da taxa de desemprego. Um país que abdica de investir na educação e que tem um défice de qualificações abaixo da média da OCDE, no futuro continuará a ter sérios problemas para o seu desenvolvimento económico. O país está mal e vai estar péssimo, Portugal não pode deixar de priorizar a Educação.

Cristiana Alexandra Oliveira Carvalho

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: