sábado, 17 de novembro de 2012

O Endividamento das Famílias Portuguesas

A economia portuguesa tem vivenciado situações de instabilidade económica durante os últimos anos, resultado da crise económica internacional. E os problemas que Portugal enfrenta ou, mais concretamente, os problemas que as famílias portuguesas enfrentam são, efectivamente, factor de conflito e preocupação diária.
O endividamento das famílias portuguesas surge como sendo um desses dilemas. De facto, o endividamento das famílias portuguesas é um problema cada vez mais actual, sendo que a partir da década de 90 assistiu-se a um forte aumento do nível de endividamento das famílias, um aumento de cerca de 110%. Contrariamente a estes dados, é de referir que o grau de esforço das famílias portuguesas não acompanhou, de todo, o aumento do endividamento, o que sugere um comportamento de conformismo, o que poderá surtir num sobreendividamento.
Existem diversos factores que poderão explicar esta situação de endividamento: o espírito consumista que cada vez mais caracteriza a sociedade portuguesa; uma certa falta de hábitos de poupança; o aumento significativo da oferta de crédito por parte das instituições financeiras nos últimos anos; e, porventura, uma falta de conhecimento da actividade financeira, que alguns indivíduos apelidam de “literacia financeira”. Estes factores podem ser explicados pelo aumento da globalização, que levou a um espírito consumista por parte da sociedade e a um sentimento de “querer mais e melhor”, o que levou a um consumo acima das possibilidades, e este consumo afectou, de certo modo, o hábito de poupar por parte de muitas famílias portuguesas. O crescente aumento da oferta de crédito durante os últimos anos, especialmente do crédito à habitação, também agravou este comportamento consumista: o acesso ao crédito fácil e a enorme variedade de entidades que o disponibilizam levou ao endividamento de muitas famílias portuguesas. Por fim, mencionando o conceito de “literacia financeira”, se as famílias não percebem ao certo como funcionam as taxas de juro, o que é o “spread”, entre outros conceitos económicos, podem estar a aceder ao crédito sem saber ao certo no que se estão a meter, podendo estar a ser induzidas em erro e a caminhar para situações de sobreendividamento.
Analisando o endividamento português comparativamente à União Europeia, constatamos que as famílias portuguesas encontram-se com um dos valores mais elevados, apenas superado por alguns países. Num estudo recente do Banco de Portugal, conclui-se isso mesmo, que Portugal apresenta um dos índices mais elevados da zona euro e, conclui-se também, que a tendência de aumento, evidenciada ao longo das duas últimas décadas, terá sido interrompida no contexto do processo de ajustamento que está em curso na economia portuguesa.
Em síntese, é de realçar o facto de que a “época consumista”, a época do acesso ao crédito fácil, parece ter abrandado, provável consequência da crise internacional, o que pode sugerir que estes momentos de instabilidade podem ter ajudado algumas famílias a tomar consciência das repercussões que o seu comportamento consumista poderia originar. E, face a situações de instabilidade, a sociedade tem tendência a poupar mais e melhor, o que pode explicar esse abrandamento consumista e a tomada de consciência, por parte da sociedade, dos “novos tempos”.


Daniel do Nascimento Correia

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: