sábado, 13 de outubro de 2012

Crise e saúde – um país em sofrimento

Desemprego, contratados a prazo, falência de empresas, casas devolvidas aos bancos, fiadores de empréstimo sobre-endividados, crédito malparado, bancos alimentares a perder capacidade de resposta, entre tantos outros, são  assuntos que fazem parte do dia-a-dia de cada um de  nós, infelizmente. O nosso país está em sofrimento!
A crise financeira, económica e social é patente e os efeitos da austeridade no sistema de saúde são evidentes. Esta é uma crise desencadeada pelos sistemas financeiros, que convergiu com graves falhas na gestão do Euro, que atingiu mais intensamente países económica e socialmente mais frágeis. A situação foi agravada pela inadequação das respostas nacionais, europeias e internacionais.
A saúde é um setor particularmente sensível à degradação das condições económicas e sociais de um povo. Uma crise económica afeta necessariamente a saúde física e mental da população e o sistema de saúde do país.
A súbita incapacidade de refinanciar a dívida portuguesa levou ao pedido formal de apoio financeiro às instituições europeias e ao FMI. Este apoio financeiro, para superar a inacessibilidade aos mercados financeiros, trouxe consigo o Memorando de Entendimento com a Troika (MdE). Os principais objectivos na introdução do programa são: “melhorar  a  eficiência  e  efetividade  no  sistema  de  saúde,  induzindo  uma  utilização  mais  racional  dos  serviços  e  controle  da  despesa,  de  modo  a  obter  poupança  adicional  no  setor  farmacêutico  e  reduzir  a  despesa  pública  com  medicamentos  (...)  e  obter  poupança  nos  custos operacionais dos hospitais.” 
          O MdE afeta a saúde e o sistema de saúde português de múltiplas formas: efeitos do empobrecimento, do desemprego e endividamento sobre a saúde das pessoas; pressão da diminuição do gasto público com a saúde sobre o funcionamento dos serviços de saúde; impacto e diminuição das disponibilidades financeiras das famílias (menos rendimento, maior custo de vida) e dos co-pagamentos nos serviços públicos de saúde (falsas taxas moderadoras).
         O custo dos medicamentos inovadores foi o último reduto de austeridade na saúde. Racionalização ou racionamento? O tema está a alimentar uma acesa polémica, desde que foi divulgado. Um parecer do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida (CNECV) sugere um “racionamento explícito e transparente, em diálogo com os cidadãos” para medicamentos contra o cancro, sida e doenças reumáticas. O presidente do CNECV alega que já há um racionamento implícito de medicamentos nos hospitais. O racionamento já é prática em pelo menos 14 unidades de saúde do Norte, segundo declarações do presidente do Centro Hospitalar do Porto. A poupança obtida foi de 60%. Mas até que ponto é isto ético?
         Na elaboração e adoção de qualquer política pública significativa deve ser tomado em linha de conta o seu impacto na saúde e no bem-estar dos portugueses. O país deve ser governado olhando conjuntamente e simultaneamente para as alternativas de natureza financeira, as exigências de crescimento económico, as necessidades de proteção social e as aspirações de desenvolvimento humano.
         Quanto às medidas incluídas no MdE, o país teria beneficiado se estas tivessem sido há muito implementadas. Pois, grande parte destas medidas estão fortemente orientadas para a contenção de custos e para uma melhor utilização de recursos na saúde. No entanto, o conjunto de medidas executadas forçosamente num tempo excessivamente curto, e sem um adequando enquadramento em políticas de saúde, representa um sério risco para o futuro do sistema de saúde.
         A saúde não pode ser racionada sendo um absurdo do ponto ético. O acesso a tratamentos e fármacos deve assegurar a justiça e equidade. Não pode existir diferença entre pacientes devido à sua idade ou estado da doença. A saúde deve ser racionalizada.             

Maria Costa Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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