sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Adaptações organizacionais à realidade económica

As estruturas organizacionais das empresas vão-se desenvolvendo com o decorrer do tempo para que seja possível torná-las mais eficientes e mais competitivas e, consequentemente, mais rentáveis.
Um factor para estas alterações é o desenvolvimento tecnológico que tem um papel preponderante devido à substituição de vários trabalhadores por uma máquina que faz o mesmo serviço e por um custo de produção inferior.
Outro factor é o dos problemas diários que se verificavam ou poderiam vir a verificar como, por exemplo, o demorado processo de comunicação desde a classe operária até ao topo da hierarquia. Imagine-se que um operário revelava ao seu superior uma ideia de potencial melhoramento do processo de produção que estava a ser usado, depois o superior comunicava ao seu superior e assim consecutivamente até chegar ao presidente da organização que iria estudar a ideia e dar o seu aval e então far-se-ia o caminho inverso até que fosse implementada esta melhoria. Contudo, existe o risco de aquela ideia muito promissora deixar de o ser durante o seu longo percurso até à sua implementação devido ao adiantamento de uma empresa rival que surgiu primeiro.
Assim sendo, assistiu-se numa fase mais inicial das alterações aos estreitamentos das pirâmides organizacionais das empresas, tendo algumas delas alcançado uma estrutura em forma de pirâmide invertida, pois a tecnologia veio revolucionar o mercado de trabalho.
Actualmente, verifica-se por toda a Europa um novo modelo que tem as seguintes características:
            - Existência de um núcleo duro de indivíduos que são obrigatoriamente necessários e responsáveis da empresa, uma vez que a aposta na tecnologia é fácil de igualar pelos rivais, logo, devem apostar no capital humano, que é diferente de indivíduo para indivíduo, e isto permitir-lhes-á obter uma vantagem comparativa.
             - Os “operários” da empresa são pessoas com contratos de curto prazo, com contratos temporários ou ligados a empresas que prestam serviços especializados, como empresas de limpezas ou de segurança.
Este novo modelo permite uma maior flexibilização do mercado de trabalho, através de uma maior oferta de trabalho, que diminuirá os salários e permitirá baixar os custos de produção das empresas e ao mesmo tempo aumenta as produtividades destas devido à competição que existe por um emprego. Consequentemente, aumentará a vantagem comparativa do país face a outros países, o que levará a um aumento das exportações e permitirá a especialização desse país nas indústrias que possuem este tipo de vantagens. Permitirá ainda diminuir o desemprego de longo prazo.
Contudo uma diminuição dos salários terá efeitos negativos sobre a procura interna, que é o principal mecanismo de dinamismo de uma economia, porque está sempre sujeita a choques externos como, por exemplo, a abertura ao mercado de uma economia com uma mão-de-obra mais barata no mesmo tipo de indústria em que o país está especializado.
Numa perspectiva pessimista, o mercado doméstico teria efeitos nefastos sobre a procura interna devido aos baixos salários e, sobre a procura externa, devido à concorrência mais barata. Tudo isto, aliado à mobilização de trabalhadores e empregadores que ocorreria para as indústrias especializadas implicaria uma diminuição das suas rentabilidades, provocando até a insolvência de muitas empresas, aumentando o número de desempregados e de pessoas em situação de pobreza e de risco de sobrevivência. Dificultaria ainda, devido à falta de fundos, o investimento noutras indústrias que possibilitariam o crescimento económico. Em situação idêntica encontra-se Portugal, após a abertura de mercados asiáticos, mais especificamente, a do mercado chinês.
            Numa perspectiva optimista, o mercado nacional teria alcançado com a especialização de várias indústrias uma vantagem absoluta a que lhe permitia dominar esse nicho de mercado e assim obter rentabilidades muito elevadas, gerando mais empregos e empregados e, consequentemente, teria efeitos positivos sobre os salários, que por sua vez permitiria maior acesso a melhores mercados e a mais educação, que possibilitaria maior inovação e desenvolvimento – situação idêntica à que se verificou em Inglaterra após a Peste Negra – mas com cuidados redobrados para que os outros países não pudessem usufruir desse desenvolvimento que levaria ao fim da vantagem comparativa existente.
            Em Portugal e na Europa em geral, tem-se vindo a adoptar este modelo, que parece ser o mais eficaz e rentável para as empresas e para a economia, que permite a flexibilização do mercado de trabalho, apesar de tornar mais complicada a situação de empregabilidade para aqueles sem contratos de médio/longo prazo. Parece ser esta a solução para alguns dos mais graves problemas da economia portuguesa, que assenta na especialização de trabalho pouco qualificado, intensivo, que comparando com países mais a leste têm salários muito mais elevados, dando a ideia que a solução passa por baixar os nossos salários mais baixos.
Sendo então de lamentar que o processo de transição seja feito por necessidade e não naturalmente, o que acaba por provocar uma situação de insustentabilidade para as famílias portuguesas que vêem a austeridade “assaltar-lhes” as economias, que vêm diminuindo face às condições económicas que se verificam como o elevado desemprego, a diminuição dos subsídios e pensões e outras medidas que se vão tomando, o que acarreta graves problemas de sobrevivência face ao custo de vida existente. 
            Resta saber se o nosso futuro ficará hipotecado ou se será promissor com estas medidas, mas um Nobel da Economia, Paul Krugman, já veio dizer que é altura de a Europa pensar mais nas pessoas, mas até que ponto será esta a melhor solução uma vez que esta também pode hipotecar o nosso futuro.

Rui Miguel Ribeiro Sampaio

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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