quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A facilidade de acesso ao crédito e o sobre-endividamento

Na maioria dos países a crise económica foi desencadeada pela concessão de empréstimos a pessoas que davam poucas garantias de pagamento. Assim, em Agosto de 2007, uma crise económica iniciou-se nos EUA, com quedas bastantes acentuadas nos mercados imobiliários (sobretudo dos designados empréstimos subprime – hipotecas de maior risco). O facto de muitas instituições financeiras estarem fortemente interligadas com activos provenientes dos EUA, fez com que a crise financeira rapidamente se espalhasse, e contagiou vários países europeus, num curto período de tempo. Assim, atualmente a questão do sobre-endividamento das famílias portuguesas tem vindo a agravar-se de forma bastante significativa, em grande parte devido ao período de estagnação e falta de dinamismo da Economia Portuguesa.
Consequentemente, o facto de os indivíduos quererem consumir cada vez mais, associado à falta de hábitos de poupança, bem como ao marketing das instituições financeiras para créditos bastante apelativos, os designados “créditos fáceis”, são os principais fatores que contribuíram para a situação atual de endividamento das famílias. Assim, é preciso mudar de mentalidades, porque muitos dos indivíduos que têm mais de três ou quatro créditos, preferem vivem num mundo de falsas aparências, (muitas vezes adquirindo ainda mais créditos), de forma a mostrar aos outros que “têm tudo do bom e melhor”, do que enfrentar a realidade de que não irão conseguir cumprir os seus compromissos, e consequentemente irão entrar em incumprimento.
Não quero com isto afirmar que recorrer ao crédito é uma má opção, apenas importa realçar que as famílias devem ter consciência que se deve fazer um consumo moderado, recorrendo apenas a um crédito, por exemplo para a habitação, de forma a poderem ter as condições mínimas para viver e evitando assim o espírito consumista. Uma vez que é necessário ter em conta que na vida, por vezes, surgem imprevistos que afetam o nosso rendimento, e os quais não podemos controlar, como é o caso de doenças, mortes, acidentes, desemprego, entre outros. Porém, alguns destes fatores têm uma maior probabilidade de ocorrer, como é o caso do desemprego, devido ao contexto económico adverso de deterioração das condições do mercado de trabalho, ou seja da redução do rendimento disponível.
Para contornar estas situações é preciso promover medidas de forma a incentivar as famílias a aumentarem as suas taxas de poupança, uma vez que em Junho de 2011, de acordo com o Banco de Portugal esta taxa situava-se em 8,9%, valor inferior ao registado em 2009 de 10,9%. Portanto, o governo também deverá implementar medidas de forma a tentar evitar estas situações, tais como aumentar a “flexibilidade” das negociações dos créditos entre as instituições bancárias e os consumidores que estejam em incumprimento, por exemplo alargando ainda mais os prazos de pagamento. Por outro lado, também deveria impor regras ao sistema bancário para que este não recorra à chamada ilusão de créditos com baixas taxas de juros, sendo que as instituições bancários também devem ter como preocupação alertar os consumidores para os verdadeiros riscos do incumprimento, bem como para as suas implicações judiciais.
Concluindo, atualmente devido ao contexto macroeconómico bastante desfavorável, com aumentos da taxa de desemprego a atingirem máximos históricos, cerca de 15,9% em Agosto de 2012, e devido ao ajustamento que está a decorrer na Economia Portuguesa, o acesso a novos créditos para famílias portuguesas praticamente está estagnado, uma vez que Portugal tem uma das maiores taxas de endividamento da zona euro. Assim, para evitar estas altas taxas de endividamento é preciso adoptar medidas para contrariar estes mesmos efeitos no futuro.

Valentina Maria Sousa Cerqueira Lima

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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