sexta-feira, 4 de maio de 2012

A Pobreza e a Repartição dos Rendimentos

A pobreza representa uma privação do direito básico de cada indivíduo participar plenamente na vida social, económica, cultural e política da comunidade em que se insere. Os pobres tendem a ser excluídos de diversos mercados, enfrentam um acesso limitado às instituições políticas e judiciais e investem de forma insuficiente na aquisição de activos que optimizem a sua participação nas actividades económicas, com destaque para o investimento em capital humano. Adicionalmente, esta exclusão tende a ser transmitida entre gerações. Num contexto de mercados incompletos, a importância de reduzir os níveis de pobreza é, deste modo, fundada não apenas em razões de equidade mas também em razões de eficiência.
Os níveis de pobreza persistentemente elevados em Portugal representam uma questão incontornável no processo de desenvolvimento da economia portuguesa nas décadas mais recentes.
Segundo dados do Eurostat cerca de 17,9% da população portuguesa encontrava-se, no ano de 2010, em risco de pobreza, percentagem próxima da média da União Europeia, que era de 16,4 %. Com o desemprego acima dos 14% e com os sucessivos cortes nas prestações sociais o risco de pobreza deveria ter aumentando significativamente, no entanto, Portugal apenas registou um ligeiro aumento.
Os dados revelam ainda que, em 2010, Portugal era o nono país mais pobre dos 27 da União Europeia e que mais de 30% dos portugueses passam fome
Relativamente à distribuição de rendimento, existem vários indicadores para avaliar a forma como o rendimento de um país é repartido pela população, de entre os quais podemos destacar o rendimento per capita, o leque salarial ou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
O rendimento per capita mostra a parte do Rendimento Nacional (RN) que cabe, em média, a cada pessoa de um determinado país.
O leque salarial é um indicador que mostra a relação entre o salário mínimo e o salário máximo em vigor num país, numa empresa ou numa categoria profissional.
O Índice do Desenvolvimento Humano (IDH) inclui os seguintes indicadores, PIB p.c. real, baseado na paridade do poder de compra, a esperança média de vida à nascença e a taxa de alfabetização de adultos e taxa de escolaridade combinada dos ensinos primário, secundário e superior.
Comparando os dados referentes ao leque salarial líquido, constantes no Balanço Social de 2003 e de 2008, podemos concluir que as diferenças salariais têm vindo a aumentar. De facto, em 2003, o maior vencimento base líquido foi 3 a 12 vezes superior ao menor vencimento em 64,3% das empresas,  enquanto que apenas em 17,4% das empresas o leque salarial líquido foi superior a 20. Em 2008, a percentagem de empresas com um leque salarial líquido entre 3 e 12 passou para 57,6%, enquanto a percentagem de empresas com um leque salarial superior a 20 aumentou para 19,1%.
Portugal é o Estado-membro da União Europeia com uma maior disparidade na distribuição dos rendimentos, ultrapassando os EUA nos indicadores de desigualdade, em termos globais. Existem em Portugal mais de 2 milhões de pessoas que vivem com menos de 10 euros por dia.
Tendo em conta um estudo publicado pelo INE, os 10% mais ricos da população recebem mais rendimento do que 50% da população.
Segundo o Eurostat, entre 2001 e 2004, o número de vezes que o rendimento dos 20% mais ricos da população é superior ao dos 20% mais pobres aumentou, em Portugal, de 6,5 para 7,2 (portanto + 0,7), enquanto a média dos 25 países da União Europeia cresceu de 4,5 para 4,8 (portanto +0,3). Relativamente a 2009, dados do INE, mostram que 20% dos portugueses mais ricos apresentam rendimentos 5,6 vezes superiores aos 20% mais pobres, com tendência para que esta desigualdade entre os rendimentos seja cada vez maior. É de reconhecer que esta desigualdade tem vindo a alargar-se muito rapidamente num crescente número de países.

Rui Filipe Bastos Carvalho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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