terça-feira, 20 de março de 2012

O desespero dos alunos bolseiros

Numa época em que cada vez se torna mais importante a formação académica superior que permita distinguir e valorizar cidadãos aquando da sua entrada e/ou permanência no mercado de trabalho, são cada vez mais os alunos que desistem de terminar a sua formação no ensino superior e que, por vezes, nem chegam a colocar a hipótese de candidatura por falta de meios financeiros. O facto é que, contrariamente ao número de alunos em dificuldades (que tem vindo a aumentar), o número de bolsas de estudo tem vindo a diminuir, tornando a situação cada vez mais insustentável.
As regras do novo regulamento de Acção Social de 23 de Setembro de 2011 foram responsáveis pela elevada taxa de indeferimento dos pedidos. O fim do regime transitório é apontado como o principal motivo de rejeição de candidaturas, no entanto, o governo introduziu também escalões na avaliação de elegibilidade dos alunos. Candidatos que tenham algum membro da família com dividas à Segurança Social ou às finanças e/ou cujo agregado familiar tenha um rendimento per capita superior a 6800 euros por ano, são automaticamente rejeitados. O valor da bolsa atribuída aos alunos depende, também, do património mobiliário das famílias, isto é, quando a família tiver até 10 mil euros no banco a bolsa reduz-se em 5%, entre 10 mil e 40 mil reduz-se em 10% e de 40 mil a 100 mil o corte é de 20% (em Expresso). No caso de o agregado familiar ter mais de 100 mil euros de património mobiliário, os pedidos não serão igualmente aceites. É de lembrar também que a burocratização dos processos de candidatura agrava ainda mais a situação, uma vez que na Universidade Nova de Lisboa cerca de 35% dos candidatos (em Visão) viram os seus processos indeferidos devido à falta de documentação e/ou mau preenchimento dos questionários.
No ano lectivo 2009/10 o número de alunos bolseiros era 74 935, diminuindo para 56 799 em 2010/11 e chegando agora em 2011/12 aos 45 523 (sendo que ainda faltava analisar 10% das candidaturas), segundo dados da PORDATA e do Ministério da Educação e Ciência que revelam uma diminuição de 30 mil alunos bolseiros em apenas dois anos. No ano lectivo anterior foram rejeitados 46% do total de pedidos sendo que este ano, dos 96 767 pedidos já foram rejeitados 48% (em Visão) e as perspectivas apontam para que este número continue a aumentar. No caso da Universidade do Minho, há dois anos os indeferimentos atingiram 15% dos candidatos, aumentando para 25% no ano anterior e atingindo este ano um máximo de 27,25% dos candidatos (em Público). Mais grave ainda é o facto de, em Março do presente ano lectivo, ainda existirem alunos à espera de uma resposta por parte da Direcção-Geral do Ensino Superior para saberem se vão ou não receber bolsa. Nuno Crato, Ministro da Educação, anunciou que a bolsa média no ensino superior público e privado aumentou aproximadamente 100 euros desde o ano lectivo anterior. Afirma também que, os números disponíveis em Janeiro deste ano "não confirmam um aumento do abandono" de alunos no Ensino Superior mas o que é facto é que muitos deles se vêem forçados a colocar esta hipótese.
Como frequentadora do ensino superior não é complicado fazer o balanço mensal dos gastos que milhares de alunos têm que suportar, desde propinas, alimentação, transportes, entre outros. É cada vez maior o número de alunos que necessitam de recorrer a empregos part-time ou até mesmo full-time, de maneira a conseguirem suportar todas as despesas, uma vez que muitos não podem contar com a ajuda das famílias ou esta se revela insuficiente. O problema está no facto de os apoios sociais desses mesmos estudantes serem reduzidos ou até mesmo eliminados devido a esse rendimento “extra”, tornando tudo isto uma bola de neve cada vez maior. Mais ainda “nos” revolta quando, no dia-a-dia, nos debatemos com situações de falsificação de declarações de rendimentos e/ou património por parte de muitos que, na maioria das vezes, não têm necessidade de o fazer. Enquanto situações destas continuarem a verificar-se, as desigualdades serão cada vez maiores, deixando os alunos com mais dificuldades financeiras sem hipótese de frequentar o ensino superior.

Daniela Gonçalves Gomes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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